REUSO DA ÁGUA NAS EDIFICAÇÕES

18/10/2010 14:05

 Seca- Vale JequitinhnhaTEVAP - Pos-Tratamento  de efluentesÁgua para beber - Vale Jequitinhnha

Em pesquisa realizada recentemente pelo IBGE (PNSB – Pesquisa Nacional de Saneamento Básico), constatou que: 47,8% das cidades brasileiras não contam com serviço primário de esgoto (coleta e tratamento); e apenas 20,2% dos municípios tratam seus esgotos. Ou seja, total de 11 bilhões de litros de esgoto gerado por residências, aproximadamente ¾ desse volume são lançados nos cursos d’água sem nenhum tratamento.

No Plano Mundial de Metas Ambientais da Eco92 foi afirmado que: "aproximadamente 80% de todas as doenças são de origem hídrica (cólera, disenteria, hepatite, intoxicação alimentar entre outras) e mais de um terço das mortes em países em desenvolvimento são causadas pelo consumo de água contaminada".

Hoje em dia a situação continua sem a devida atenção, e um dos sérios problemas durante a “vida” (ocupação) de um edifício é a geração de lixo, principalmente através dos efluentes, que se não tratados adequadamente podem ser perigosos agentes de contaminação dos mananciais naturais de água potável.

O tratamento descentralizado dos efluentes é uma ótima solução para os problemas de tratamento de esgoto em zonas que não contam com saneamento básico, ou onde o sistema publico é ineficiente ou não atende as necessidades dos usuários.

O tratamento descentralizado consiste em tratar o esgoto no local onde ele é gerado, sem necessidade de dispendiosas redes públicas de coleta e sistemas de tratamentos centralizados. Basicamente esses sistemas atendem aos pressupostos da Agenda 21, quando propõem uma solução local para os problemas ambientais causados pela geração de esgotos.

REUSO DA ÁGUA

Os sistemas de tratamento descentralizados podem ser construídos e instalados tanto em locais onde não existe saneamento básico como também nos locais onde existe rede de esgoto, mas se deseja fazer o reuso das águas servidas.

Podemos entender como reuso ou reaproveitamento da água, o processo pelo qual a água, tratada ou não, é reutilizada pelo homem na mesma função, ou em outra atividade humana diferente da primeira .

O reuso da água é um estimulo para a conservação das águas potáveis disponíveis no planeta, sendo assim indispensáveis em sistemas de gestão sustentável do uso da água, pois diminui a demanda de retirada de água do meio ambiente.

De acordo com ANA (Agência Nacional da Água), com o reuso de águas cinzas para a limpeza dos vasos sanitários podemos economizar 1/3 da demanda domestica de água do país.

Tipos de reuso

O reuso pode ser indireto ou direto, planejado ou não planejado. .

Reuso indireto e não planejado : quando o reuso é feito por um segundo usuário, depois do descarte do efluente no meio ambiente pelo primeiro usuário sem tratamento, controle e intenção de possibilitar o reuso. (ex. pequenas propriedades rurais e cidades)

Reuso indireto planejado: o primeiro usuário descarta o efluente no meio ambiente depois do tratamento, com a intenção de possibilitar a captação e reuso de um próximo usuário (ex. cidades próximas, às margens do mesmo rio).

Reuso direto e planejado: o efluente é tratado e/ou armazenado e quando chega em seu ponto de descarga ele é diretamente conduzido para o reuso, sem entrar em contato com o meio ambiente. (ex. sistemas industriais, tratamentos de efluentes domésticos, sistemas de irrigação, captação de águas pluviais para reuso)

Reciclagem da água : o efluente é reutilizado internamente no processo sem passar por tratamento ou locais de disposição (ex. sistemas industriais). A reciclagem de água diminui os custos com tratamentos, acondicionamento e reduz o consumo de água e a poluição ambiental. Atualmente existem fabricas onde sistemas de montagem e produção trabalham somente com água reciclada, não gerando efluente e nem consumindo água doce.

O tipo de sistema e nível de tratamento das águas residuais dependem diretamente da qualidade das águas servidas disponíveis e da qualidade desejada para o reuso.

No Brasil temos as normas fornecidas pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) que tratam do assunto do reuso das águas servidas para fins industriais, domésticos e comerciais. A NBR 13969 de 1997.

Nesta norma, o item que trata do reuso local diz que: “No caso do esgoto de origem essencialmente doméstica ou com características similares, o esgoto tratado deve ser reutilizado para fins que exigem qualidade de água não potável, mas sanitariamente segura, tais como irrigação dos jardins, lavagem dos pios e dos veículos automotivos, na descarga dos vasos sanitários, na manutenção paisagística dos lagos e canais com água, na irrigação dos campos agrícolas e pastagens etc.”

De acordo com essa norma temos as seguintes classificações para a qualidade das águas servidas requerida para usos específicos:

Classe

Uso previsto

Turbidez

Coliformes Fecais

Sólidos dissolvidos totais

pH

Cloro residual

CLASSE 1

Lavagem de carros e outros usos que requerem contato direto do usuário com a água

Inferior a 5

Inferior a 200 NMP/100 ml

Inferior a 200 mg/L

Entre 6 e 8

Entre 0,5 mg/l e 1,5 mg/l

CLASSE 2

Lavagem de pisos, calçadas e irrigação dos jardins, manutenção dos lagos e canais para fins paisagísticos, exceto chafarizes

Inferior a 5

Inferior a 500 NMP/100 ml

-

-

Superior a 0,5 mg/L

CLASSE 3

Reuso em descargas dos vasos sanitários

Inferior a 10

Inferior a 500 NMP/100 ml

-

-

-

CLASSE 4

Reuso nos pomares, cereais, forragens, pastagens para gados e outros cultivos

-

Inferior a 5000 NMP/100mL

-

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-

Classificação e reusos previstos – fonte: ABNT norma 13969/1997

Depois de receberem tratamento adequado as águas servidas destinadas ao reuso devem ser armazenadas em reservatórios para posterior reaproveitamento. Estes reservatórios devem ser dimensionados de acordo com a quantidade de oferta e demanda das águas a serem reaproveitadas e também de acordo com o tempo de armazenamento dessas águas.

O dimensionamento dos sistemas de tratamento das águas servidas deve ser feito de acordo com a NBR 7229 de 1993.

Os sistemas convencionais de tratamento das águas servidas são utilizados para o descarte das águas no meio ambiente ou na rede pública de esgoto. Nesses sistemas convencionais, compostos por tanque séptico, filtro anaeróbico e sumidouro ou vala de infiltração, o nível de filtragem da água não é indicada para o reuso, principalmente por que na maioria das vezes o efluente é composto por águas cinzas e negras misturadas e os sistemas não possuem eficiência necessária para o reuso do efluente.

Por este motivo o tratamento da água nestes sistemas convencionais não são completos como em uma de Estação de Tratamento de Esgoto (ETE).

Existem diversos projetos de ETEs compactas eficientes comercializados no mercado brasileiro por profissionais e empresas. Estes sistemas têm o mesmo principio de funcionamento dos sistemas descentralizados convencionais, porém possuem também o estagio de tratamento com filtro aeróbico e sistemas de desinfecção com cloro, ozônio, radiação UV ou osmose reversa.

Devemos sempre incentivar e requerer o reuso da água em nossa obra, projeto, condomínio ou comunidade, assim como darmos atenção a práticas e hábitos de redução do consumo da água.

Veja no link a seguir dicas para reduzir o consumo e a degradação dos recursos hídricos durante construção e ocupação de edificações.      

Redução de Consumo e da Degradação da Água em Edifícações - BIOhabitate.pdf (173,2 kB)

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